Internet é instrumento de pressão e ajuda na fiscalização, defende ONG

12/11/2012 14:14

Para o vice- presidente de campanhas globais da Change, a mobilização pode mudar comportamentos



Paul Hilder, vice presidente de campanhas globais da Change.org
Foto: O Globo / André Coelho

Paul Hilder, vice presidente de campanhas globais da Change.orgO GLOBO / ANDRÉ COELHO

BRASÍLIA - O uso da internet pelos cidadãos pode mudar atitudes de governos e empresas e ajudar na fiscalização de atos até do judiciário. É o que pensa Paul Hilder, vice-presidente de campanhas globais da Change, uma organização não governamental presente em 196 países e que começou a atuar no Brasil há três semanas. A ONG é a maior plataforma mundial de abaixo-assinados, uma espécie de You Tube de petições. Hilder, que esteve em Brasília para participar da Conferência Internacional Anti-Corrupção (IACC, na sigla em inglês), disse que o Brasil vive um momento muito importante, com a adoção da Lei da Ficha Limpa e com a condenação de envolvidos com o mensalão, o que, em sua visão, pode contribuir para mobilizar a opinião pública a pressionar o Judiciário a ser mais enérgico no julgamento de políticos acusados de corrupção.

 

Em conversa com O GLOBO, Hilder explicou que a internet é um instrumento poderoso de pressão e pode mobilizar muito mais rapidamente e de uma forma mais eficiente milhares de pessoas ao redor do mundo para apoiar uma causa, o que, em sua opinião, contribui para o sucesso da causa. Como exemplos bem-sucedidos do uso da ONG que dirige, Hilder enumera várias ações, desde uma norte-americana que começou uma campanha pela Change contra a cobrança de uma taxa mensal de US$ 5 para poder movimentar sua conta, até uma mobilização contra a corrupção policial na Indonésia.

- Há muitas oportunidades aqui no Brasil e muitos desafios - diz ele, empolgado, para acrescentar:

- As campanhas lançadas pela internet têm como regra, na maioria dos casos, o fato de que os apoiadores não são vinculados a partidos políticos nem são necessariamente ativistas políticos. São pessoas comuns, que fazem a diferença.

Para ele, a mobilização da opinião pública é essencial para mudar comportamentos, sobretudo de autoridades. Apesar de o site ter estreado no Brasil há três semanas, em português (antes era possível acessá-lo somente em inglês), já há campanhas brasileiras em andamento. Uma delas pede que o ex-jogador Ronaldo convença a Fifa a autorizar as baianas que vendem acarajé a trabalhar ao redor do estádio Fonte Nova. A Fifa quer proibir num raio de dois quilômetros qualquer comércio que não esteja ligado aos patrocinadores. Pela proposta da entidade internacional de futebol, os acarajés seriam vendidos por um desses patrocinadores e passariam a ser aquecidos em micro-ondas. As baianas argumentam que elas são patrimônio imaterial do Brasil, reconhecidas pelo Iphan. A campanha já tem quase 7 mil assinaturas.

- Podemos apoiar campanhas em qualquer lugar do mundo - diz Hilder.

Ele ressalta que, a despeito de alguns políticos ou empresas desconsideram a opinião pública na hora de tomar decisões, esta pode exercer pressão para obter mudanças.

- O que queremos na democracia é que os argumentos sejam considerados, levando-se em consideração as diferentes preocupações. Mas nem sempre aqueles que tomam decisões têm todas as informações que deveriam ter. As empresas e os governos mudam não por causa apenas da mobilização, mas porque os argumentos são certos e é a coisa razoável a fazer.